The Challenge of Home Hospitalization
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Abstract
Após a II Grande Guerra, em 1945, a lotação dos hospitais americanos tornou necessário criar uma alternativa que permitisse o tratamento dos doentes, o início da sua reabilitação e a criação de um ambiente psicológico mais favorável. É assim que, no Hospital Montefiore em Nova Iorque, nasce a Hospitalização Domiciliária aliando os benefícios para o doente e as necessidades do sistema – hospital at home. Na Europa, esta realidade surge em França, em 1957, no Assistance Publique – Hôpitaux de Paris, seguindo-se a Suíça, a Alemanha, o Reino Unido, Espanha, entre outros.1 Em Portugal, o Serviço de Medicina Interna do Hospital Garcia de Orta, implementou a primeira Unidade de Hospitalização Domiciliária (UHD) de doentes agudos em Portugal em 2015.
Os avanços na ciência e tecnologia têm permitido inovar exponencialmente na Medicina. Atualmente, existem formas de detetar doenças em estadios precoces e assistimos a novas formas de tratamento, numa tentativa de prevenir o desenvolvimento e controlar as manifestações de determinadas patologias, mas também atrasar a progressão das doenças, melhorando o prognóstico e aumentando a sobrevida. Como consequência direta deste fenómeno, a população apresenta-se mais envelhecida, vivendo mais anos com doenças crónicas, verificando-se uma maior necessidade de cuidados médicos.2 A multimorbilidade associa-se a um maior número de hospitalizações e complicações nosocomiais, institucionalizações, polimedicação e efeitos adversos medicamentosos, assim como perdas de capacidade funcional e qualidade de vida e aumentos da mortalidade e da taxa de utilização dos recursos médicos, verificando-se um aumento importante dos custos associados aos cuidados de saúde.3,4
A longo prazo, esta situação tornar-se-á insustentável pela saturação dos serviços de saúde e assim urge a reformulação da prestação de cuidados de saúde de nível hospitalar. A Hospitalização Domiciliária apresenta-se como uma alternativa segura e eficaz. Centrada no doente e nas famílias/cuidadores, trata-se de um modelo de assistência hospitalar que se caracteriza pela prestação de cuidados no domicílio a doentes agudos, cujas condições bio-psico-sociais o permitam. Assenta em 5 princípios fundamentais: voluntariedade na aceitação do modelo, igualdade de direitos e deveres do doente, equivalência de qualidade na prestação dos cuidados, rigor na admissão de doentes e no seu seguimento clínico, humanização de serviços e valorização do papel da família.5 A equipa médica e de enfermagem assegura visitas presenciais diárias com médico e enfermeiro e permite-se acompanhar as necessidades do internamento 24 horas por dia, 7 dias por semana – tal é possível não apenas através da existência de um contacto telefónico, mas também por projetos de telemonitorização. O internamento feito através da UHD obedece a critérios objetivos que passam pela avaliação de condições clínicas, sociais e geográficas de cada doente, sendo a admissão voluntária. Os doentes podem ser referenciados diretamente através dos serviços de atendimento urgente, mas também do internamento e da consulta.
Após o contacto, a equipa da UHD avaliará o doente e articulará sempre com o médico assistente desde o momento da referenciação, passando pelo internamento e articulando seguimento após a alta. Do ponto de vista clínico, entre alguns dos diagnósticos elegíveis para a Hospitalização Domiciliária podem estar: insuficiência
cardíaca; as infeções respiratórias, urinárias, da pele e tecidos moles; infeções desenvolvidas na sequência de colocação de material protésico; antecipação de alta hospitalar convencional para doentes cirúrgicos, por exemplo, de Neurocirurgia, Ortopedia e Cirurgia Geral, podendo o internamento ser completado em casa dos doentes. Encontram-se bem estabelecidos na literatura, o tratamento agudo de um conjunto variado de doenças (doença pulmonar obstrutiva crónica, insuficiência cardíaca, celulites/erisipela, infeções adquiridas na comunidade ou hospitalar, infeções por microrganismos multirresistentes), de modo seguro e custo efetivo.5,6
Todos os doentes devem ter um plano de tratamento individualizado que contempla acompanhamento diário e presencial de uma equipa de médicos e enfermeiros, numa equivalência total de cuidados face ao internamento a que o doente estaria sujeito num hospital, com ganhos de saúde evidentes para o doente e reforço de conhecimentos em saúde para os cuidadores e/ou familiares. A Medicina Interna, como especialidade generalista, holística e hospitalar, ganha aqui um papel-chave no seguimento destes doentes durante o internamento. Desde novembro de 2015 a dezembro de 2020, o Serviço Nacional de Saúde português conta já com 32 UHD em funcionamento; este conceito é já uma realidade na prestação médica privada em Portugal, com a criação de uma UHD na CUF em junho de 2020 para a área da grande Lisboa.
Para além da prestação de cuidados de saúde de qualidade, a Hospitalização Domiciliária é também um palco privilegiado para investigação clínica e formação. A Medicina moderna exige reformulação dos serviços de saúde e a Hospitalização Domiciliária parece apresentar vantagens tanto para o sistema como para o doente e cuidadores, sem prejuízo da segurança na prestação dos cuidados, garantindo mais e melhores acessos aos cuidados de saúde, reduzindo as complicações inerentes ao internamento convencional (como as quedas, as infeções nosocomiais e os quadros confusionais agudos), criando um entorno psicológico mais favorável ao doente durante o período de tratamento, e valorizando o papel da família/cuidador.4,5,7-9
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